INTRODUÇÃO
PROÊMIO
1. O Senhor Jesus Cristo, cabeça e pastor da Igreja, chama seus discípulos à unidade e fidelidade, fundadas na verdade do Evangelho. A Igreja, como sacramento de salvação, é enviada ao mundo para anunciar a Boa Nova com humildade, mansidão e obediência ao Espírito Santo. No entanto, surgem desafios que ameaçam a comunhão eclesial e obscurecem o testemunho cristão, especialmente em tempos de mudanças e conflitos.
2. Entre essas dificuldades, destacam-se tendências de extremismo tradicionalista, caracterizadas pela rejeição ao magistério, pela negação do Concílio Vaticano II e pela exaltação de costumes e práticas que não refletem o coração do Evangelho. Estas atitudes, acompanhadas frequentemente por falta de humildade e comportamentos divisivos, ferem a unidade da Igreja e afastam os fiéis da verdadeira comunhão em Cristo.
3. Neste documento, desejamos reafirmar os fundamentos da unidade cristã e corrigir erros que ameaçam essa comunhão. Inspirados pelo Espírito Santo, que renova continuamente a Igreja, chamamos todos os fiéis à conversão e à redescoberta da essência do Evangelho.
CAPÍTULO I
MAGISTÉRIO AUTÊNTICO
4. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, sustentado pelo Espírito Santo e guiado pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele. A unidade da Igreja não é uma realidade opcional, mas um dom essencial, que reflete a própria comunhão trinitária. [1] "A unidade querida por Cristo não pode ser rompida sem grave ofensa ao Espírito Santo."
5. Contudo, há aqueles que, rejeitando a autoridade do magistério, promovem divisões e se isolam da comunhão eclesial. Estas atitudes são frequentemente justificadas por interpretações errôneas da tradição, como se a fidelidade à Igreja dependesse exclusivamente da adesão a costumes antigos. [2] "Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962 – isso deve ficar muito claro a todos os que querem ser obedientes à Igreja."
6. A verdadeira unidade exige fidelidade ao magistério autêntico, que interpreta e aplica a Palavra de Deus em cada época da história. Não há espaço para divisões que colocam ritos, práticas ou preferências pessoais acima da comunhão com o Papa e os bispos.
CAPÍTULO II
FALTA DE HUMILDADE E ORGULHO
7. A humildade é a virtude fundamental para o cristão. Cristo mesmo, em sua encarnação, nos ensinou que "quem quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos." Contudo, alguns caem na armadilha do orgulho espiritual, considerando-se superiores aos outros por seguirem certas tradições ou costumes específicos.
8. "Aquele que se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será exaltado." Este ensinamento de Jesus nos recorda que a verdadeira grandeza não está em práticas externas, mas em um coração disposto a servir e amar.
9. O apego exclusivo a formas tradicionais pode se transformar em um fechamento ao dinamismo do Espírito Santo, que continuamente renova e vivifica a Igreja. Essa postura reflete uma falta de confiança em Deus, como se a fé dependesse apenas de costumes e não do encontro pessoal com Cristo vivo.
CAPÍTULO III
O CONCÍLIO VATICANO II E A TRADIÇÃO VIVA
10. O Concílio Vaticano II foi um momento extraordinário da história da Igreja, no qual o Espírito Santo guiou o povo de Deus para responder aos desafios do mundo contemporâneo. Contudo, ainda há aqueles que rejeitam os ensinamentos do Concílio, alegando que ele rompeu com a tradição.
11. [3] "O Concílio Vaticano II não representa uma ruptura, mas uma reforma na continuidade da única Igreja de Cristo." Esta reforma foi um chamado à fidelidade ao Evangelho e à renovação da missão da Igreja no mundo. Negar o Concílio é recusar o discernimento guiado pelo Espírito Santo e comprometer gravemente a unidade e a fidelidade eclesial.
12. A verdadeira tradição é viva e dinâmica, não um museu de formas antigas. [4] "A hermenêutica da reforma, da renovação na continuidade, é a única interpretação possível do Concílio."
CAPÍTULO IV
A EVANGELIZAÇÃO E O TESTEMUNHO DE SIMPLICIDADE
13. A missão da Igreja é anunciar o Evangelho com alegria, humildade e mansidão. O radicalismo que se manifesta em pregações violentas, arrogantes ou debochadas contradiz a essência do Evangelho. [5] "A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração."
14. A simplicidade e a autenticidade são fundamentais para a evangelização. "A verdade não se impõe pela força, mas pela própria verdade, que penetra suavemente nas almas." Os apóstolos foram enviados ao mundo não para humilhar ou condenar, mas para testemunhar o amor transformador de Cristo.
15. Evangelizar não é impor costumes ou tradições, mas abrir os corações ao encontro com o Deus vivo. A pregação violenta ou a imposição de práticas específicas é um obstáculo à conversão genuína e afasta muitos da Igreja.
CAPÍTULO V
CHAMADO À CONVERSÃO E À COMUNHÃO
16. Diante dos desafios apresentados pelo extremismo tradicionalista e outras formas de divisões internas, a Igreja convida todos os fiéis à conversão e à reconciliação. [6] "Deixemos que o Senhor nos liberte do pessimismo amargo e das divisões internas."
17. A conversão exige humildade para reconhecer nossos erros e confiança na misericórdia de Deus. É um chamado a abandonar o orgulho espiritual, as divisões e as resistências ao magistério, para redescobrir a alegria de pertencer ao único Corpo de Cristo.
18. A comunhão eclesial não é um peso, mas uma fonte de vida e alegria. Todos somos chamados a viver a fé com simplicidade, obediência e amor, para que o mundo veja em nós o rosto de Cristo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
19. A unidade e a fidelidade na verdade são inseparáveis da humildade e do amor. Este documento é um chamado a todos os fiéis para abandonarem atitudes que ferem a comunhão e a missão da Igreja. Que o Espírito Santo renove nossos corações e nos conduza à plena comunhão em Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida.
20. Esta exortação não tem nenhuma intenção de cortar costumes tradicionais ou proibir celebrações ou ritos antigos autorizados pela igreja. Mas sim, dar sentido ao Culto Divino que celebramos, sem o destaque de ritos ou costumes, mas de Cristo, que é o centro da vida.
Dado e Passado no Rio de Janeiro, no décimo no dia do mês de janeiro, vésperas da Solenidade de São Sebastião, durante a Viagem Apostólica ao Brasil, no ano Jubilar de 2025, primeiro de meu pontificado.
✠ Antonivs, Pp.
Pontifex Maximvs